Foresight – Tendências Globais que irão moldar o Futuro da Sociedade

Casa do Impacto | 4 dezembro de 2019

A Fundação Aga Khan Portugal  lançou a iniciativa chamada AKF TALKS em 2018, no âmbito do Jubileu de Diamante de Sua Alteza o Príncipe Aga Khan, com o propósito de provocar o debate, mas principalmente colaboração, sobre as grandes tendências globais que estão a mudar o nosso futuro. Foram desenvolvidas três tertúlias, muito centradas sobre as dimensões da diversidade, do pluralismo e da qualidade de vida para todos.

O que é Foresight?

Ninguém toma decisões sem olhar para o passado, mas na maioria das vezes decidimos sem informação sobre o futuro, sem projeções, sem questionar.

O Foresight é uma ferramenta e uma ciência usada para adaptar estratégia, políticas e/ou implementação de projetos em diferentes áreas de trabalho. É uma forma de organizar processos de descoberta coletiva e de quebrar lógicas entre concepção e implementação: quando penso, estou a fazer.

Comparando com o Forecast, que se baseia em evidências disponíveis aos dias de hoje, o Foresight, apesar de não prever o futuro, encontra formas para traçar quais os cenários mais plausíveis, as disrupções, os primeiros sinais de mudança.

Não pretende traçar apenas os cenários mais negativos ou alarmistas, mas sim, preparar-nos para as oportunidades. Que implicações políticas, que decisões tomamos e que oportunidades estamos já a mapear para que possam ser aproveitadas em termos de crescimento, visibilidade e resiliência económica e social.

O Foresight pretende ajudar a criar projetos “à prova do futuro”, não se prepara para um conjunto de possibilidades infinito, mas sim para aquelas que são mais prováveis, tendo em conta o estudo de mega tendências, baseadas em evidências passadas e sinais de mudança.

Para que serve o Foresight?

Os seres humanos têm um conjunto de enviesamentos cognitivos que reforçam a importância do Foresight:

  • O futuro é sempre visto como uma trajetória linear, mesmo sabendo-se que o presente é tão diferente do passado e, por isso, mesmo assim, quando projetamos o futuro, vemo-lo à semelhança do presente.
  • Somos otimistas por natureza, apesar de ser necessário olharmos para cenários pessimistas para que nos possamos preparar melhor para o futuro;
  • Somos reativos e não tanto proactivos. A sociedade está a alterar-se de forma tão acelerada que enquanto os projetos, estratégias ou políticas estão a ser desenvolvidas ou implementadas, são já obsoletas.

Por isso, o Foresight:

  • ao invés de correr atrás da sociedade, quer ser proactivo, controlando em vez de reagindo;
  • pretende criar um espaço seguro em torno do pensamento sobre o futuro;
  • pretende trabalhar em torno de políticas e estratégias preventivas, ao invés de políticas e estratégias curativas;
  • pretende diminuir o custo relacionado com a mudança. Prever e mudar antes, ao invés de ser obrigado a mudar porque o mundo entretanto mudou;
  • pretende que as decisões sejam mais resilientes e baseadas em evidências, ao invés de intuições ou hipóteses não sistematizadas

Mega tendências (referidas na sessão)

De um modo geral, o mundo está a tornar-se, por um lado, mais volátil e, por outro, cada vez mais rápido, trazendo novas mudanças a um ritmo alucinante. Uma das maiores tendências globais é, precisamente, a velocidade das coisas e da mudança em todas as áreas, velocidade esta que está a aumentar de forma tremenda. Este ritmo imprime uma necessidade de urgência e exprime-se em qualquer uma das grandes tendências globais referidas, que ganham novas dimensões e contornos quando correlacionadas entre si.

  • Com o desenvolvimento tecnológico a natureza dos conflitos irá mudar, tornando-os mais letais e rápidos, o que, combinado com o aumento populacional nas cidades, trará cada vez mais guerras em contexto urbano.
  • Em 2030 a inteligência das máquinas começará a rivalizar com a inteligência humana.
  • A vigilância com recurso a inteligência artificial será cada vez mais utilizada por países autocráticos ou semi-autocráticos que exportarão essas tecnologias para países em desenvolvimento
  • As decisões não deverão ser tomadas exclusivamente por máquinas: mesmo existindo automatização, deverá sempre existir, em última instância, um humano responsável pela decisão
  • Em alguns temas, por exemplo migrações, o uso da tecnologia deveria ficar sempre sobre o controlo de autoridades públicas, aspeto que é já hoje um desafio se considerarmos por exemplo quem detém os nossos dados (data)
  • Relativamente à proteção de dados, existe à data de hoje um framework na Europa e, idealmente, os mesmos standards deveriam aplicar-se aos restantes países
  • Se a inteligência artificial será boa ou má dependerá de uma boa governança em torno do tema. Por exemplo, garantindo que os algoritmos não incluem preconceitos/enviesamentos raciais, intergeracionais, de género etc..

Passar à ação

Sabendo o que nos dizem as mega tendências como podemos criar estruturas mais resilientes à mudança? Como podemos mapear e antecipar tudo o que possa ter impacto no nosso futuro para que possamos recomendar políticas públicas que façam mais sentido e criar países mais resilientes à mudança, quando esta é disruptiva e inesperada?

Tem sido a partir destes processos de estudo, mapeamento e reflexão que a OCDE tece recomendações de política pública, mas será sempre crucial a importância que se dá ao processo de decisão, nomeadamente até que ponto se age sobre as recomendações que são dadas. Instrumentos como Foresight só são verdadeiramente úteis se se efetivarem em ações concretas, ou seja, na definição de prioridades, na procura de inovação em termos de soluções, no desenho de programas a 10 e 15 anos.

Por exemplo, a crise dos refugiados não foi uma surpresa no contexto da OCDE, mas é relevante verificar que quando os primeiros sinais de alerta foram identificados, estes não foram lidos e devidamente retidos, não havendo, por isso, nenhuma ação política apropriada, dando origem às consequências que todos conhecemos.